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Nas Nuvens de Um Terceiro Andar

Qua | 30.05.18

Eutanásia

Nuvem

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 Não tinha ainda expressado a minha opinião porque, confesso, estava expectante pelo resultado da votação de ontem. E, confesso também, é nestes dias que tenho (ainda mais!) vergonha dos políticos que nos representam.

Ninguém é obrigado a aceitar morrer, mas também ninguém devia ser obrigado a viver quando já não vive.

A minha avó definhou aos nossos olhos. Um tumor na bexiga, três vezes operado. Um tumor que se disseminou para os ossos. E que, a partir desse dia, tornou o sofrimento dela numa coisa inexplicável. Numa semana, deixou de andar pelo pé dela. As dores tornaram-se insuportáveis. A morfina deixou de fazer qualquer efeito.

Não conseguia dormir com tantas dores. Não conseguia descansar fisicamente. Mas muito menos psicologicamente. Em pouco mais de dois meses, deixou de ter noção de onde estava. Momentos (poucos) de lucidez faziam-na mostrar o desagrado por estar assim. Por não querer estar assim. Por querer partir e não poder.

Acabou por morrer poucos dias depois. Mal já nos conhecia.E nós não a conhecíamos a ela. Tão magra que era impossível mexer-lhe sem lhe partir um osso. Alimentada por sonda. E sem qualquer qualidade de vida.

Todos os que a amavam percebiam que era melhor partir. Por muito que doesse. Por muito que fossemos sentir a falta dela.

Isto aconteceu há 13anos atrás. Mas hoje, 13 anos depois, pensei que a mentalidade estivesse mais evoluída. Afinal, estamos pior do que há anos atrás. Porque agora tem-se consciência e não se faz nada na mesma.

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