Passam hoje 24 anos desde a sua morte. 24 anos desde o dia em que a minha avó, aquando soubemos da notícia, apenas me disse "Vês filha, nem as princesas são felizes para sempre. Rico ou pobre, princesa ou plebeia, todos temos a nossa quota de tristeza e sofrimento..:" Nunca mais me esqueci.
A verdade é que ela será sempre recordada. Pela sua forma de ser, pela forma como encarava o mundo e, muito também, pela forma como agia enquanto mãe. Uma mãe que deixou dois filhos, desolados, e que tiveram de partilhar a sua dor de uma forma pública...ninguém merece.
Hoje, mesmo 24anos depois, continua a ser um ícone. Continuam a ser feitas capas de revistas, notícias, homenagens.
E a isto chama-se ser eterno. Não haverá tempo que apague a memória de quem foi a Princesa do Povo.
Em novembro, chega "Spencer", o filme sobre os seus últimos anos de vida. Confesso, estou ansiosa!
É técnica de Anatomia Patológica, trabalha no Instituto Gulbenkian de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian em Microscopia Eletrónica, é voluntária do GASNova. A Ana Vinagre é também uma das pessoas que a faculdade me deu. E tenho tanto gosto de a receber aqui hoje…e que também vocês a possam conhecer!
Antes de mais, obrigada por aceitares estar aqui hoje a falar connosco. Trabalhar no Instituto Gulbenkian de Ciência é saber que, todos os dias, contribuis para que a ciência avance mais um bocadinho?
Obrigada pelo convite! É tão bom que os anos passem e que agora possa partilhar aqui neste cantinho, algumas das minhas aventuras.
Sobre a pergunta, sim! A ciência está constantemente a avançar porque todos os cientistas coletivamente desvendam um pouco mais do maravilhoso mundo que nos rodeia. Cada um de nós individualmente tem um papel nesse trabalho de descoberta e trabalhar em ciência (e especificamente no Instituto Gulbenkian de Ciência) permite-me contribuir com a minha parte.
És uma dos milhares de portugueses que está há meses a fio em teletrabalho. Esta mudança drástica de rotinas traz consequências?
Estive em teletrabalho mas sempre com um olho no laboratório. Por aqui é difícil que o nosso trabalho passe a 100% para teletrabalho porque existem amostras, equipamentos e experiências que não nos permitem parar. No entanto, tenho que admitir que a minha rotina mudou drasticamente e que nem tudo foi mau! Existiram de facto consequências negativas no sentido prático da ciência - muitas experiências adiadas e em espera - e pessoais - o laboratório que me entrou via computador pela minha casa dentro e que me tirou os poucos horários que ainda cumprimos por aqui. Sentia estar ligada à ciência 24 horas por dia e isto leva a uma sobrecarga a longo prazo - foi um período dedicado a descobrir como lidar com este tipo de ciência dentro de casa.
No entanto, vendo o lado positivo, permitiu-me ter tempo para escrever um artigo científico e organizar todos os protocolos do serviço juntamente com a equipa do serviço de Microscopia Eletrónica. Este trabalho de escritório, como lhe chamamos, muitas vezes é esquecido ou vai sendo adiado porque o laboratório tem sempre uma urgência aqui e ali. Permitiu-me assistir a conferências com pessoas de todas as partes do mundo que de outra forma teria sido difícil conhecer ou estabelecer contacto. Permitiu-me ter tempo para pensar. Isto pode soar estranho, mas em ciência este tempo é precioso. Estamos constantemente a estudar e é importante parar a pensar sobre a generalidade da pesquisa - fazer ligações, pensar hipóteses.
O voluntariado sempre foi algo que quiseste fazer ou surgiu inesperadamente na tua vida?
Sempre quis fazer voluntariado. Na altura que estava no secundário tentei integrar várias iniciativas mas devido à idade e ao local onde moro que tem pouca acessibilidade de transportes públicos foi difícil. Entretanto a vida aconteceu e apenas estive ligada a iniciativas pontuais às quais não posso chamar voluntariado e foi só já quando estava a trabalhar que o GASNova surgiu na minha vida.
És voluntária do GASNova, que tem como grande lema “A Mudança começa em Ti”. Para quem não conhece, o que é o GASNova?
O GASNova é uma ONGD portuguesa que tem como missão sensibilizar, formar e mobilizar jovens com o objetivo de torná-los agentes de transformação social. Na prática o que isto significa é que no GASNova os jovens encontram um local onde durante 1 ano a que chamamos “Caminhada” são desafiados a sair da sua zona de conforto.
Durante a Caminhada, e sempre usando métodos de educação não-formal, são debatidos temas como por exemplo Direitos Humanos, Diversidade Funcional, Sustentabilidade, Saúde Mental; são feitos momentos de grupo onde fazemos pequenas ações de voluntariado com parceiros e onde somos confrontados com conceitos e opiniões muito diferentes das que lidamos no dia-a-dia.
O GASNova quer ser (e penso que o seja...pelo menos para mim foi) um local onde os jovens se sentem confortáveis a estarem desconfortáveis - um espaço onde ninguém te julga pelas questões que tens, um lugar onde podes debater sem temer o que alguém irá pensar de ti. Porque, tal como dizemos, a mudança começa mesmo em cada um de nós.
Antes da pandemia, estiveste em voluntariado na Grécia a trabalhar com refugiados. Em que é que isso te mudou?
Em muito. Tenho primeiro que explicar, para quem não conhece o GASNova, que no final da Caminhada podemos candidatar-nos a ir em Projeto de Voluntariado. Estes projetos têm duração entre 3 a 7 semanas, podem ser nacionais ou internacionais e são sempre feitos em parceria com organizações que se encontram no terreno e que sabem as verdadeiras necessidades.
Fui integrada num Projeto na ilha grega de Samos numa parceria com a associação “Refugee for Refugees”. Esta associação foi criada por um refugiado sírio, Omar Alshakal e tem duas grandes vertentes: a de fornecer roupa e bens de higiene aos refugiados bem como de organizar atividades para as crianças.
Claro que não posso deixar de dizer que a Ana que iniciou a caminhada GASNova não foi a mesma que terminou e foi em projeto, mas também a Ana que foi em projeto não foi a mesma que voltou a Portugal. A Caminhada GASNova deu-me muitas das ferramentas que me permitiu viver o projeto de forma completamente diferente do que se apenas tivesse ido em projeto sem esta Caminhada de 1 ano. O que vi, senti e experienciei em Samos mudou-me mais do que eu temo dizer mudou a vida de quem comigo se cruzou.
E depois de vermos alguém que perdeu tudo, pomos a nossa vida e a importância que damos às coisas em perspetiva?
Esse foi possivelmente um dos maiores ensinamentos que trouxe comigo. Aprender a ser grata. Grata com coisas tão simples como o trânsito - eu estar no trânsito sozinha dentro do meu carro é aborrecido, é uma perda de tempo MAS isto significa que vivo num país onde posso conduzir, onde posso ir sozinha sem ter medo, onde posso ter o meu próprio carro, onde me permitem trabalhar num trabalho que eu gosto e para o qual estudei, onde eu não tenho medo de morrer a qualquer altura ou que possa voltar a casa e não ter casa e/ou a minha família.
Vocês têm um projeto incrível, o Nataru, que consiste em distribuírem Origamis por Lisboa… é a forma de mostrarem que não é preciso muito para se dizer “presente”?
O Nataru é uma das ações de sensibilização que fazemos com os voluntários GASNova que iniciaram a caminhada. Na última caminhada, não o fizemos presencialmente devido à pandemia mas não paramos e decidimos fazer mais. Saímos de Lisboa e decidimos criar uma nova forma de distribuir os corações origamis por todo o país em modo online. Cada pessoa que recebia um coração podia colocar num mapa online o local e, no fim, o nosso objetivo era ter todo um mapa coberto de corações. O coração de origami significa que o melhor presente nem sempre são presentes caros e materiais, o melhor presente é estar presente. Especialmente na altura do Natal esta mensagem tem um grande impacto porque na azáfama de ter que comprar algo muitas vezes esquecemo-nos do essencial e, já escreveu Saint-Exupéry, “o essencial é invisível aos olhos”.
Com a pandemia por COVID-19, têm conseguido continuar a ajudar?
Conseguimos! Penso que quando há muita vontade, há sempre forma de conseguir ajudar. Claro que tudo teve que ser revisto de forma a ser feito com segurança não só para os nossos voluntários como para as pessoas a quem chegamos. Conseguimos ter várias atividades presenciais durante o ano, como por exemplo a ação “Vale Árvore” onde o GASNova em parceria com a “Plantar uma Árvore” conseguiu fazer uma ação de limpeza de espécies invasoras na serra de Sintra e a ação no Bairro do Torrão, na Trafaria, onde foram desenvolvidas atividades com os moradores do bairro. Conseguimos também ter 3 Projectos de Voluntariado que estão agora a acontecer durante o verão com dois parceiros - a ONGD Sopro de Barcelos e o Projecto LAR de Ima na Guarda.
Não posso deixar de falar da minha experiência fora do GASNova e este ano também integrei um dos Campos da “Just a Change” para reconstrução de casas de pessoas que vivem em condições de pobreza habitacional. Este projeto é essencial mas especialmente em pandemia, onde passamos tantas horas dentro das nossas casas.
Conceitos como a Cidadania Global e valores como a justiça, equidade e solidariedade, estão um pouco perdidos nesta sociedade que já deveria ter aprendido o que realmente importa?
Sim, mas há esperança! Todos os anos de GASNova tenho conhecido sempre jovens com uma capacidade de pensar o mundo que me surpreende. Por isso o importante é, por muito pouco que pareça, que cada um de nós faça sempre algo, nem que seja falar. Se eu conseguir que 2 pessoas pensem sobre as desigualdades e injustiças do mundo e esta pessoa puser outras 2 pessoas a pensar, imagina a corrente que é possível criar e o impacto que isso terá. A introdução da Cidadania nas escolas para mim é essencial e se o GASNova agora ainda faz sentido para os jovens terem um espaço onde possam discutir o mundo que os rodeia sem receios de serem julgados, espero que daqui a uns anos o trabalho seja já feito desde a escola e que todos os nossos jovens encontrem esse espaço em todo o lado.
Obrigada. Muito obrigada
Obrigada pelo convite, por seres quem és e como dizemos no GASnova “Estamos Juntos!”
♡
Numa altura em que nos questionamos o que fazer para ajudar o povo afegão que sofreu, nas últimas semanas, um revés ao seu poder de liberdade, a Ana mostra-nos que há sempre forma de fazer, há sempre forma de ajudar. E não é só o povo afegão que necessita de ajuda; infelizmente, em pleno Portugal, há realidades que serão difíceis de acreditar, mas que existem.
Realmente a Ana que aqui vêm é diferente da Ana que conheci há mais de 10anos atrás...mais madura, mais sensível, mais capaz de mover o mundo para conseguir fazer o bem por alguém. Mas a essência é a mesma...boa! É um enorme privilégio mostrar-vos que, de tudo o que Lisboa me deu nos quatro anos que ali estive, foram as pessoas o meu melhor presente..e a Ana é uma delas!
Projetos como o GASnova ou o LAR mostram-nos que o tempo chega para podermos ajudar; que conseguirmos fazer a diferença na vida de alguém é muito mais do que a vida nos pode dar..é o verdadeiro sentido de viver. Mas estes são dois em muitos que existem..cabe-nos procurar por um com o qual nos identifiquemos e seguir em frente.
Deixar o mundo melhor do que o encontrámos será sempre um dos maiores e mais importantes lemas de vida...e aquela que, em momento algum, nos devemos esquecer!
Resumo: "Os gananciosos esquilos Daniel e João estão ambos de olho num prémio muito especial: os últimos pinhões da estação. Oh, não! Começou a corrida!"
"Os Esquilos Que Não Sabiam Partilhar" - conquistou-me desde o primeiro momento; primeiro, porque tem uma escrita engraçada (em rima), muito simples e leve; depois, porque tem uma mensagem tão improtante: a importância da partilha e da amizade.
Daqueles que acho que não podem faltar na estante de qualquer criança - faz parte do Plano Nacional de Leitura!
Na verdade, penso ser um livro que deve ter faltado a muitos adultos!
I haven't a clue how I'd even raise themWhat would you do?
'Cause you always do what's right
Can we just talk a while until my worries disappear?
I'd tell you that I'm scared of turning out a failure
You'd say remember that the answer in the love that we create
So much has changed since you been away"
Não estava preparada para uma música destas. À sua maneira, confirma-se aquilo que dizem de Ed Sheeran: consegue ter uma música para cada momento das nossas vidas...esta, com certeza, é das mais emotivas e mais bonitas
Partilhei no instagram que no sábado levámos o Francisco ao cinema pela primeira vez. Claro que tivemos receios, claro que pensámos: "E se ao fim de 30minutos ele quiser ir embora, fazemos o quê?"
A verdade é que defendemos o mesmo desde sempre: ninguém nasce ensinado. Ninguém sabe como agir em determinado sítio, se nunca tiver lá estado, muito menos quando nem 3anos se tem.
Falámos com ele se era uma coisa que ele realmente queria, porque para irmos ao cinema gastávamos dinheiro, por isso era para ser aproveitado. Ele sempre se mostrou muito feliz por ir. Antes de entrarmos voltámos a lembrá-lo de que não podia fazer barulho nem sair do lugar dele...
Correu muito bem na verdade. Sim, ele levantou-se sem sair dali. Foi levantando e sentando, foi percebendo a história (no momento mais triste do filme ficou com lágrimas nos olhos e até me pediu colo). E isto era exatamente o que queríamos: que ele tivesse a perceção da história, que se focasse no que importa. Comeu pipocas pela primeira vez e adorou. Se é saudável? Achamos que sim...cinema sem pipocas..não é cinema!
A verdade é que depois de contar esta experiência recebi várias mensagens a dizer que tinham medo que as suas crianças não se portassem assim. Mas, as expetativas somos nós que as criamos. Cabe-nos a nós ajustá-las conforme a personalidade deles, a forma de estar. Só ficaremos desiludidos ou chateados se eles não se portarem como expectável..mas, muitas vezes, tendemos a esperar de mais deles. Falo por mim, que não sou um modelo e também, por vezes, me esqueço disto.
Mas se há coisa que a maternidade me ensinou foi isto: só nos desiludimos se tivermos a fasquia muito alta E isto serve não só para os filhos, mas para tudo na vida.
Se nos focarmos no que importa, se lhes mostrarmos que confiamos neles para irmos a sítio novo, eles vão entender. E surpreender-nos. E, assim, ninguém fica desiludido. E, se mesmo assim, correr mal? Tudo bem na mesma..para a próxima será melhor!