Desafio de escrita dos pássaros #2.4
O google está errado
- Já procuraste bem? Tens a certeza que é assim tão longe?
- Sim mãe é. Tu queres ir para um lado e aquilo é para o outro! Procurei no Google e são mais de 300Km de distância!
- O Google está errado! Diz-lhe que a D.Ermelinda foi lá a outra semana e disse que era perto! Liga-lhe e diz-lhe isso, também não te pode fazer de parvo filho!
-Ligo a quem mãe?
-Ao Google filho! Não me estás a dizer que ele te disse que era longe? Ele está a enganar-te!
- Oh mãe! O Google é…olha esquece! Tens razão! Talvez me esteja a enganar…
Não valia apena estar a tentar explicar à mãe o que era o Google. Tinha demência... Há mais de dez anos que estava internada na psiquiatria. Não tinha melhoras, pelo contrário, a doença aguçara-lhe também a teimosia e destruíra o bom senso. Perdera o norte e já não sabia onde vivia sequer. Agora metera na cabeça que queria ir visitar umas grutas sabe-se lá onde. Gonçalo já não sabia como a podia dissuadir. Tentara dizer-lhe que era longe… mas até uma Dª Ermelinda (imaginária!) ela tinha conseguido criar para lhe dar razão.
Havia dias que não eram fáceis. A demência destruía uma pessoa de tal maneira que, a maioria dos dias, nem a reconhecia. Não era a mãe que tanto o amava, que tudo tinha feito por ele. Era só um corpo com uma cabeça completamente alterada.
Quase todos os dias Gonçalo chorava depois de sair da visita. A maioria dos dias não o reconhecia e confundia-o com o pai que os abandonara quando Gonçalo era pequeno; nesses dias, ela ficava completamente alterada ao vê-lo. Às vezes, já duvidava se as suas visitas lhe fariam mais mal que bem…
A demência destruíra a sua mãe. Mas nunca iria destruir as boas recordações, os bens momentos que tinham passado juntos. Ela podia não se lembrar, mas ele fazia de tudo para nunca se esquecer.