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Nas Nuvens de Um Terceiro Andar

Ter | 17.05.22

Intuição de mãe não engana

Nuvem

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Sempre ouvi isto mas, até ser mãe, confesso que duvidava.

Mas a vida encarrega-se de nos mostrar quando estamos errados. Às vezes não da melhor maneira, mas acontece.

De há 3meses para cá comecei a sentir que o Francisco não estava bem na escola. Ele, que sempre adorou e que até ao fim-de-semana queria ir, passou a ficar a choramingar e a dizer que não queria ir. Houve dias em que ficava mesmo a chorar copiosamente.... Disseram para não valorizar, que provavelmente era chamada de atenção por eu estar grávida e ele ter ciúmes...mas nunca acreditámos, nem eu nem o pai, nessa teoria.

A situação piorou quando ele, de repente, começou a fazer xixi na hora da sesta na escola, ele que não usa fralda há mais de um ano e que não tem descuidos a noite toda, que não acontece nada em casa... aí, parou. Alguma coisa não estava bem.

Tivemos o cuidado de falar com a educadora que, mais uma vez, desvalorizou e disse que era de certeza regressão e chamada de atenção pela minha gravidez. Mas não acreditei. Decidimos, e porque sabemos a maturidade do nosso filho, falar seriamente com ele. Perceber o que se passava. E ele disse. Disse que fazia xixi de propósito para se poder levantar porque estava muito tempo na sesta - na escola deles, ainda têm 3h de sesta nesta idade e, eu sei, o meu filho nem metade dorme. Não tem essa necessidade, não o posso obrigar a dormir 3h. A própria Sociedade Portuguesa de Pediatria diz que a sesta é importante, SIM, mas que deve ser feito um plano adequado a cada criança. 

Falei com os outros pais e percebi que os outros meninos sentiam o mesmo, só não expressavam nem tinham arranjado nenhuma forma de contornar o problema. Percebi também que havia pais que este já era o segundo filho e que com o primeiro já tinham passado por isto ali na mesma instituição, mas que "não valia apena, eles não vão mudar". Mas eu não consigo ser assim...não consigo que seja assim só porque sim.

Marcámos reunião na escola com a educadora e com a direção pedagógica e expusemos o problema. Explicámos que não queríamos de todo que ele deixasse de dormir (porque, se fosse essa a opção, estaria numa escola pública onde a sesta não é realizada) mas que também não achávamos justo ele (e outros que tais) estivessem deitados 3h no escuro, sem poder fazer qualquer barulho. Imaginem um miúdo cheio de energia quase ali preso. Pedimos se, quando acordassem, não poderiam ir sendo levados para outra sala, onde não incomodassem os que queriam dormir mas que eles assim pudessem estar levantados...e a intransigência foi a resposta. Disseram que eram as regras e que não podiam abrir exceções. Que se fizessem isso com o Francisco muitos iriam querer.... Na realidade, percebemos que simplesmente é mais fácil ter os miúdos todos deitados do que se irem levantando...e havia muita má vontade. A forma de pensar de "se já fazemos assim há 30anos e sempre resultou, não vamos mudar agora". Mas...os miúdos de há 30anos (eu) são muito diferentes dos miúdos de hoje e a educação tem de ir sendo adequada, não pode ser igual.

 

Tentei ter calma. Explicar que este não é um problema do Francisco, mas sim um problema pedagógico. Falei com pessoas de outras escolas e percebi que o que eu propunha era o que lá se fazia, que não era descabido. Disseram que o que poderiam fazer era ele ser dos últimos a deitar...mas não resolveu. E, um dia, em que chego à escola e vejo que ele tinha feito xixi porque estava com roupa diferente da que tinha levado, falo com a educadora no sentido de lhe dizer que não estava a ser resolvido o problema e a resposta foi "Devíamos pôr-lhe uma fralda para ele aprender. Se fosse meu filho, eu não ficava do lado dele, eu tinha de o castigar".

 

E o meu coração parou. Naquele instante, e com as lágrimas já nos olhos, disse-lhe apenas que estava fora de questão e que então só havia uma solução, que era tirar de lá o Francisco (coisa que todos os dias ele pedia, para sair da escola...). Vim embora de coração apertado e com a certeza que, fosse qual fosse o esforço que tivéssemos de fazer, ele merecia melhor. Depois pediram desculpa e disseram que tinha interpretado mal...mas nunca mais me senti segura. Senti, a partir daquele dia, que já não confiava nas pessoas a quem estava a entregar uma das pessoas que mais amo no mundo.

 

Têm sido dias angustiantes...a escola que preenchia as medidas do que queríamos para ele está sempre cheia mas tentei. Pedi uma reunião e expliquei tudo o que se passava. Expliquei que preferíamos ter de nos levantar mais cedo para o ir levar (porque é exatamente do outro lado da cidade, ao contrário desta que é mesmo ao pé de casa) e que, se ali ficasse, o bebé ficaria também porque seria melhor para nós ter os dois juntos. A mensalidade é ligeiramente maior, mas, a angústia de ver o nosso filho assim não pode continuar.

 

Desta forma, tenho tido imensas insónias, imensos pesadelos, o coração sempre apertado. Nada recomendado para alguém grávida de 7meses... Ontem, finalmente, soube que o Francisco conseguiu a vaga. E hoje, consigo respirar fundo. Porque, apesar de ir mudar de amiguinhos, de ser uma mudança ao fim de quase 4anos no mesmo sítio, tem de ser. E sei que vai ser o melhor para ele e também para o bebé que aí vem.

Na realidade, tenho medo claro. Mas sei que vai valer apena. Porque vermos os nossos filhos bem é o mais importante do mundo. 

 

E no fim, a minha intuição não me enganou. E, agora, espero que também não, quando me diz que vou voltar o meu filho a sorrir ao ir para a escola! Respeito toda as formas de ser, mas ser uma mãe que fica parada porque "sempre foi assim e não vale apena chatear" não é para mim.

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